Pelo amor das pessoas novembro 14, 2022

Adeus, densidade: equidade e qualidade de vida são as novas forças que movem o desenho urbano

Por Ivy Cao
Drawing of urban streetscape
Story Overview

Vivemos em uma época em que nosso ambiente físico está em constante mudança. Aparentemente, todos os dias, novos e reluzentes complexos de escritórios, torres residenciais, shopping centers e outros empreendimentos comerciais surgem nas ruas de nossas cidades. Sai o velho e entra o novo. Mas para quem tudo isso muda? Essa é a pergunta que todos devemos nos fazer.

A densidade costumava ser a chave do desenho urbano, uma vez que os recursos locais e o transporte podem servir a uma comunidade concentrada e densamente povoada de forma mais sustentável do que uma comunidade espalhada e escassamente povoada. Mas sabemos agora que a equidade e a qualidade de vida são igualmente importantes, se não mais. Cidades saudáveis e prósperas não são apenas metrópoles densas; elas são ecossistemas vibrantes que acolhem, apoiam e servem a todos. E a forma como elas são projetadas – desde a extensão de seus quarteirões e a largura de suas calçadas até sua proximidade com o transporte, unidades de saúde, educação, alimentação e espaços abertos – é fundamental para seu sucesso.

Mas as métricas comuns com as quais muitos planejadores urbanos contam nem sequer começam a abordar a realidade de um bairro e as pessoas que o chamam de lar. Embora a densidade ainda seja um fator-chave – ela nos diz onde e para que finalidade um empreendimento deve ser construído – a equidade e a qualidade de vida devem ser prioridade.

Em 2019, eu me propus a fazer um pequeno experimento. Juntei-me a um colega que também atua como planejador urbano para examinar o processo típico de avaliação de empreendimentos realizados em bairros. Descobrimos que, embora as equipes de projeto estivessem procurando respostas para questões importantes de design, elas não estavam necessariamente fazendo perguntas como “Quem mora aqui?” ou “Como é a vida das pessoas que vivem aqui?”. Historicamente, esse tipo de coleta de dados limitada tem contribuído para práticas discriminatórias que persistem hoje, como o redlining (prática presumida de credores hipotecários de desenhar linhas vermelhas em torno de partes de um mapa para indicar áreas ou bairros nos quais não desejam fazer empréstimos. Essas áreas marcadas em vermelho são normalmente ocupadas por pessoas de baixa renda ou de uma determinada raça.) Isso por si só já é motivo suficiente para mudar o processo de planejamento urbano, na minha opinião.

Aqui está outro motivo: Os planejadores urbanos geralmente procuram maneiras de limitar o tráfego de carros e incentivar as pessoas a usar transporte público, bicicletas ou outras formas de mobilidade. Isso faz todo o sentido, já que os carros poluem o ar e emitem grandes quantidades de carbono. O que muitas vezes é ignorado, no entanto, é o fato de muitas famílias de baixa renda dependerem do carro para chegar ao trabalho e ir para a escola, o consultório médico ou o mercado mais próximo, muitas vezes porque seus bairros foram projetados sem acesso a pé a esses recursos. Nesses casos, um novo empreendimento que elimina o estacionamento nas ruas pode criar dificuldades adicionais para as famílias que lutam para sobreviver.

O que muitas vezes é ignorado, no entanto, é o fato de muitas famílias de baixa renda dependerem do carro para chegar ao trabalho e ir para a escola, o consultório médico ou o mercado mais próximo, muitas vezes porque seus bairros foram projetados sem acesso a pé a esses recursos.

Meu colega e eu chamamos nossa pesquisa (e nossa proposta de solução) “Uma Nova Fórmula para a Qualidade de Vida nos Bairros”. Com ela, buscamos propiciar aos urbanistas e planejadores um conjunto de métricas mais socializadas, tais como a porcentagem de moradores que pagam aluguel e o valor médio de uma casa em uma área. Estes dados podem nos ajudar a entender melhor a comunidade com a qual estamos trabalhando, levando a um projeto mais empático. Também permitem que nossos clientes forneçam os serviços mais adequados às pessoas que irão utilizar esses novos espaços.

Os urbanistas têm um conjunto básico de métricas para medir bairros. A pesquisa mostra que os resultados de saúde e riqueza a longo prazo estão diretamente correlacionados com o bairro em que a criança cresce.

Especificamente, a área a menos de 800 metros da casa de uma criança.

Uma das métricas que os planejadores urbanos devem analisar é o walkshed – a área de um bairro que pode ser alcançada em 10 minutos de caminhada.

Estes dados contam uma história mais honesta sobre a capacidade de se caminhar por um bairro. As métricas gerais da população nos darão uma noção de quantas pessoas vivem lá.

Os espaços abertos são cruciais em áreas urbanas de alta densidade, oferecendo um descanso ao ar livre de casas tipicamente menores, bem como locais para as pessoas se reunirem.

O acesso ao transporte público é essencial nesses bairros, reduzindo o número de carros na estrada e, portanto, as emissões de carbono. Mas há uma ressalva.

Um novo empreendimento que elimina o estacionamento nas ruas pode criar dificuldades adicionais para as famílias que lutam para sobreviver. Muitas famílias de baixa renda dependerem do carro para chegar ao trabalho e ir para a escola, o consultório médico ou o mercado mais próximo.

Isto acontece com frequência porque seus bairros foram projetados sem acesso a pé a esses recursos. Incluir estas necessidades dentro da premissa do walkshed é vital para a equidade e qualidade de vida nos bairros.

Mas, para realmente entender como projetar uma vizinhança inclusiva…

…precisamos de um completo entendimento de quem está morando aqui e como a vida é para eles.

Line drawing showing the importance of walkability in cities and towns.

Uma análise do walkshed ajuda a garantir que as pessoas não estejam isoladas umas das outras e é uma forma relativamente fácil de garantir a equidade.

Tenho o orgulho de dizer que por causa de nossa pesquisa – e da pesquisa de outros planejadores urbanos na Perkins&Wil – o pêndulo está começando a pender na direção da equidade e qualidade de vida. Mas o planejamento urbano como prática e profissão ainda tem um longo caminho a percorrer. Social movements spurred by inequity and unlivable social conditions, such as Movimentos sociais como Black Lives Matter e Stop Asian Hate, que se manifestam contra a injustiça e condições sociais inaceitáveis, são prova disso.

Mudar a maneira como projetamos nossos ambientes urbanos deve começar com uma conversa – não apenas entre arquitetos e designers, mas também entre proprietários, operadores, empresas, administradores das cidades e membros da comunidade. Mas não pode parar por aí. Devemos tomar medidas significativas juntos. Só assim nossas cidades atingirão seu verdadeiro potencial.