A densidade costumava ser a chave do desenho urbano, uma vez que os recursos locais e o transporte podem servir a uma comunidade concentrada e densamente povoada de forma mais sustentável do que uma comunidade espalhada e escassamente povoada. Mas sabemos agora que a equidade e a qualidade de vida são igualmente importantes, se não mais. Cidades saudáveis e prósperas não são apenas metrópoles densas; elas são ecossistemas vibrantes que acolhem, apoiam e servem a todos. E a forma como elas são projetadas – desde a extensão de seus quarteirões e a largura de suas calçadas até sua proximidade com o transporte, unidades de saúde, educação, alimentação e espaços abertos – é fundamental para seu sucesso.
Mas as métricas comuns com as quais muitos planejadores urbanos contam nem sequer começam a abordar a realidade de um bairro e as pessoas que o chamam de lar. Embora a densidade ainda seja um fator-chave – ela nos diz onde e para que finalidade um empreendimento deve ser construído – a equidade e a qualidade de vida devem ser prioridade.
Em 2019, eu me propus a fazer um pequeno experimento. Juntei-me a um colega que também atua como planejador urbano para examinar o processo típico de avaliação de empreendimentos realizados em bairros. Descobrimos que, embora as equipes de projeto estivessem procurando respostas para questões importantes de design, elas não estavam necessariamente fazendo perguntas como “Quem mora aqui?” ou “Como é a vida das pessoas que vivem aqui?”. Historicamente, esse tipo de coleta de dados limitada tem contribuído para práticas discriminatórias que persistem hoje, como o redlining (prática presumida de credores hipotecários de desenhar linhas vermelhas em torno de partes de um mapa para indicar áreas ou bairros nos quais não desejam fazer empréstimos. Essas áreas marcadas em vermelho são normalmente ocupadas por pessoas de baixa renda ou de uma determinada raça.) Isso por si só já é motivo suficiente para mudar o processo de planejamento urbano, na minha opinião.
Aqui está outro motivo: Os planejadores urbanos geralmente procuram maneiras de limitar o tráfego de carros e incentivar as pessoas a usar transporte público, bicicletas ou outras formas de mobilidade. Isso faz todo o sentido, já que os carros poluem o ar e emitem grandes quantidades de carbono. O que muitas vezes é ignorado, no entanto, é o fato de muitas famílias de baixa renda dependerem do carro para chegar ao trabalho e ir para a escola, o consultório médico ou o mercado mais próximo, muitas vezes porque seus bairros foram projetados sem acesso a pé a esses recursos. Nesses casos, um novo empreendimento que elimina o estacionamento nas ruas pode criar dificuldades adicionais para as famílias que lutam para sobreviver.